TRABALHO E EDUCAÇÃO NO BRASIL: A CRISE DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO SÉCULO XXI
Palavras-chave:
evasão, geração nem-nem, identificação e miséria simbólicaResumo
O número de jovens fora das universidades brasileiras tem aumentado vertiginosamente, gerando um desafio persistente que afeta o sistema educacional brasileiro e a inserção do jovem no mercado de trabalho. Isto pode ser observado nas recentes pesquisas que apontam para um decréscimo nos números de matrículas o que tem auxiliado para o aumento do número de jovens chamados “Nem-Nem”, termo utilizado no Brasil para descrever jovens que não trabalham e nem estudam. Este artigo buscou investigar as várias dimensões que originaram a evasão nas universidades brasileiras, buscando identificar fatores individuais, socioeconômicos e institucionais que desempenham um papel nesse processo, a partir de uma experiência clínica na escuta dos conflitos de jovens em processo orientação profissional e de carreira. A busca pela formação universitária vem caindo no Brasil ano a ano revelando um grande descompasso entre o jovem e a universidade. Dentre as barreiras que dificultam o acesso do jovem ao ensino superior estão: a insuficiência do sistema educacional acarretando uma queda no nível do ensino no país; desigualdade socioeconômica criando um abismo entre os jovens que alcançam notas no vestibular para as melhores universidades do país e aqueles que nunca conseguirão entrar nesta competição. Todos estes fatores trazem como consequências a falta de oportunidade de emprego; baixa qualificação e falta de habilidades profissionais por partes daqueles que não tiveram acesso a cursos profissionalizantes e universitários capaz de colocá-los em patamar de igualdade com os jovens diplomados; desmotivação e falta de perspectiva daqueles que já tentaram, sem sucesso, ingressar em universidades, ou ainda, conseguir um emprego e não são selecionados em decorrência da falta de qualificação profissional e do baixo nível na formação escolar. O artigo discute ainda, a importância da simbolização na formação da identidade do jovem e as consequências da miséria simbólica acarretando um sentimento de vazio e ausência de objeto que preencha e dê sentido à vida. Além disso, aponta os grandes desafios impostos ao jovem diante das mudanças ocorridas no mundo do trabalho e a evolução tecnológica que acelera os processos de trabalho, gerando altas demandas e exigências, cada vez maiores, por qualificação profissional.
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